Etarismo e Saúde Mental: Como o Preconceito Afeta a Vida dos Idosos
- melogerontologia
- 16 de abr.
- 4 min de leitura
Vivemos em uma sociedade que, historicamente, valoriza a juventude como sinônimo de beleza, produtividade e sucesso. Enquanto isso, o envelhecimento é frequentemente associado à decadência, incapacidade e inutilidade. Essa visão distorcida da velhice alimenta um fenômeno silencioso, porém extremamente prejudicial: o etarismo, ou ageísmo a discriminação contra pessoas com base na idade.
O etarismo está presente em diferentes esferas da vida: nas piadas aparentemente inofensivas sobre "estar velho demais", nas propagandas que exaltam apenas corpos jovens, na falta de oportunidades profissionais, na exclusão digital e até mesmo nas decisões clínicas tomadas em hospitais. E embora qualquer faixa etária possa sofrer com isso, os idosos são os principais alvos dessa forma de preconceito estrutural e cultural.
O impacto dessa discriminação vai muito além do desconforto emocional. Ele afeta diretamente a saúde mental dos idosos, contribuindo para sentimentos de solidão, baixa autoestima, ansiedade, depressão e até o agravamento de condições físicas. Quando a sociedade insiste em marginalizar a velhice, ela também nega aos idosos o direito de envelhecer com dignidade, pertencimento e bem-estar.
Neste artigo, vamos explorar como o etarismo afeta a saúde mental da população idosa, trazendo dados, relatos reais e reflexões sobre como podemos construir uma sociedade mais justa, inclusiva e acolhedora para todas as idades.
O que é o etarismo?
O etarismo pode se manifestar em pequenas atitudes do dia a dia: piadas sobre “estar velho demais para isso”, subestimar a capacidade de um idoso de aprender algo novo, ignorar sua opinião em uma conversa, ou até mesmo negar oportunidades de trabalho ou de lazer. Esse tipo de discriminação pode ser sutil, mas seus impactos são profundos.
Dados que escancaram a realidade
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada duas pessoas no mundo tem atitudes preconceituosas em relação à velhice. No Brasil, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apontou que 58% das pessoas idosas já sofreram algum tipo de discriminação relacionada à idade.
Ainda segundo a OMS, o etarismo contribui para um declínio mais rápido das funções físicas e cognitivas, e está associado a uma maior probabilidade de depressão, isolamento social e risco aumentado de morte precoce. Estima-se que o impacto negativo do etarismo sobre a saúde leve a custos globais superiores a US$ 63 bilhões por ano em cuidados de saúde.

Como o etarismo afeta a saúde mental
O preconceito contra os idosos mina sua autoestima e reduz a qualidade de vida. Sentimentos de inutilidade, solidão e falta de perspectiva podem abrir espaço para doenças como depressão e ansiedade. Além disso, o isolamento social muitas vezes resultado do etarismo é um fator de risco grave para o declínio cognitivo e emocional.
Relatos reais
Dona Célia, 74 anos, ex-professora
“Depois que me aposentei, parecia que ninguém mais me escutava. Quando eu dava opinião nas conversas, me cortavam ou mudavam de assunto. Na igreja, sugeri um projeto para alfabetização de adultos e disseram que eu estava 'muito entusiasmada para a idade'. Fui murchando. Só voltei a me sentir viva quando comecei a frequentar um grupo de leitura com outras mulheres idosas. Lá, minha voz vale alguma coisa.”
Seu Joaquim, 68 anos, porteiro aposentado
“Fui ao médico reclamar de dores constantes nas costas. Ele mal me examinou e disse que era normal ‘na minha idade’. Só que não era. Um tempo depois, descobri um problema na coluna que precisava de tratamento. Fiquei revoltado. A gente vai ficando velho e parece que tudo o que sente é 'normal'. A gente deixa de ser paciente, vira só 'mais um velho'. Isso me deixou muito pra baixo, fiquei meses sem querer sair de casa.”
Etarismo estrutural e institucional
Infelizmente, o etarismo está presente também em instituições — como hospitais, empresas e na mídia. É comum ver idosos sendo deixados de lado em tratamentos médicos mais agressivos, por acreditarem que “não vale mais a pena”. Muitos também perdem oportunidades de trabalho ou são incentivados a se aposentar mesmo quando ainda estão produtivos.
Esse preconceito estrutural reforça estigmas e priva os idosos de autonomia, voz e oportunidades. E quando isso acontece sistematicamente, o impacto na saúde mental é ainda mais profundo.
Como combater o etarismo?
Educação e conscientização: Falar abertamente sobre o etarismo é o primeiro passo para combatê-lo.
Espaços de protagonismo: Criar ambientes onde os idosos possam se expressar, compartilhar conhecimentos e participar ativamente da vida em comunidade.
Formação de profissionais: Capacitar médicos, cuidadores, psicólogos e outros profissionais para que saibam identificar e combater práticas etaristas.
Promoção da saúde mental: Investir em atendimento psicológico, grupos terapêuticos, atividades sociais e redes de apoio.
O envelhecimento é um processo natural e deve ser vivido com dignidade, respeito e bem-estar. O etarismo não só fere os direitos dos idosos, como também compromete sua saúde mental e física. Reconhecer esse preconceito e agir para superá-lo é uma tarefa de todos: familiares, profissionais de saúde, instituições e sociedade.
Valorizar a pessoa idosa é também valorizar o que somos e o que um dia seremos. Construir uma cultura de respeito à longevidade é um compromisso coletivo — e urgente.


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